Capa do texto: Logo do THC

Lá em 2014, um grupo de pessoas apaixonadas por tecnologia resolveu criar, aqui em Teresina, algo que ainda não existia por essas bandas: um hackerspace.

Assim nasceu o Teresina Hacker Clube… ou simplesmente THC, como a gente costuma chamar. Um espaço físico e simbólico onde qualquer pessoa podia chegar, aprender, ensinar, criar, desmontar, errar, consertar, começar de novo… Um lugar onde a curiosidade valia mais que o currículo.

Durante quase uma década, o THC virou ponto de encontro de estudantes, professores, autodidatas, programadores, designers, artistas, crianças e idosos. Gente de todo lugar, que às vezes nem se conhecia, mas acabava sentando lado a lado pra montar uma impressora 3D, programar um robô, ensinar HTML pra criança ou imprimir uma mão de plástico.

A missão era simples, mas imensa: democratizar o acesso ao conhecimento tecnológico, criar soluções criativas pra problemas da cidade, e formar uma comunidade forte, baseada em liberdade, colaboração e aprendizado mútuo.

Durante anos, o THC funcionou numa sala anexa à Biblioteca Cromwell de Carvalho (a.k.a. Biblioteca Do Fripisa), por meio de um convênio entre a APISoL (Associação Piauiense de Software Livre) e a antiga ATI. Em mais ou menos 50 m², a gente fez nascer projetos que mudaram vidas… e que chamaram atenção aqui dentro e lá fora também.

Foi ali que nasceu o PyLadies Teresina, um grupo que incentivou e acolheu mulheres no mundo da programação. Foi ali que uma galera imprimiu uma prótese funcional com uma impressora 3D comprada com doação. Foi ali que surgiu o Boozu, um app feito pra facilitar a vida de quem depende do transporte público de Teresina. E também o Peba, uma plataforma de dados abertos pra ajudar a fiscalizar os gastos dos deputados.

Ali também nasceram campanhas como o Hack na Veia (pra doação de sangue), ações ambientais como o Salve o Angico, as oficinas do Criança Hacker, noites de estudo coletivo regadas a café, pizzas, abraços e amizades improváveis.

Nos últimos anos, o clube acabou entrando em pausa. Veio a pandemia, vieram mudanças pessoais, e com a extinção da ATI, nossa sede ficou sem uso. Mas a chama segue acesa. A vontade de voltar, de abrir aquela sala, ver gente desmontando coisa no chão, programando na parede, explicando o que é open source com brilho no olho… isso continua aqui.

E é por isso que tô escrevendo esse texto.

Porque a gente quer voltar.

E porque o Teresina Hacker Clube é importante demais pra simplesmente deixar de existir.

Hoje, o espaço que a gente usava está sob responsabilidade da nova ETIPI (Empresa de Tecnologia da Informação do Piauí), que substituiu a antiga ATI. A gente ainda não sabe se o antigo convênio continua válido, mas quer abrir esse diálogo. A vontade de recomeçar tá aqui. Falta só um empurrão.

Se for na mesma sala da Biblioteca Cromwell, ótimo. Se for em outro lugar que nos acolha, também serve. O que importa é que o THC volte a pulsar. Com oficinas, eventos, robôs, códigos malucos, crianças aprendendo, mães ensinando, e ideias que só ali, naquele cantinho, tomam forma.

Queremos organizar mais edições do THE Hack Day, com aquela energia boa de sempre. Queremos retomar o Criança Hacker, e quem sabe chegar nas escolas públicas. Queremos atualizar os sistemas, relançar o Peba, reconstruir a Mão Amiga. Queremos ver mais gente entrando nesse universo, num espaço que acolhe, compartilha e convida a criar junto.

Porque o THC é sobre autonomia. É sobre não ficar esperando a solução pronta cair do céu. É sobre acreditar que, com conhecimento, colaboração e uma pitada de gambiarra, dá pra transformar a realidade à nossa volta.

E isso não é só bonito. É urgente.

Num mundo cada vez mais digital, é fundamental garantir que mais gente tenha acesso à tecnologia de forma crítica, livre e criativa. Principalmente num país como o nosso, onde esse acesso ainda é desigual.

O Teresina Hacker Clube sempre foi uma ferramenta pública de transformação social… mesmo sem ser órgão nenhum. É um ponto de convergência onde pessoas descobrem que podem construir, ensinar, aprender… juntas.

Se você já participou, conhece ou só ouviu falar do THC: essa é a hora de reconectar.

Se você faz parte da comunidade, de uma instituição pública ou privada, ou de qualquer lugar que acredita em educação, inclusão e tecnologia: bora conversar.

Se você nunca pisou num hackerspace, mas tem vontade de aprender algo, ensinar algo ou só se sentir parte de um grupo que acredita num futuro mais justo: vem com a gente.

O Teresina Hacker Clube não acabou.

Ele só parou no meio da ladeira pra respirar.

Agora, a gente quer que ele volte a inspirar.